Médico diz que situação da Covid-19 pode se agravar com a abertura do comércio de Feira

Foto: Ascom HGCA

O médico intensivista e coordenador das UTIs do Hospital Geral Clériston Andrade, Lúcio Couto criticou o clima de normalidade na cidade, gerado pela reabertura do comércio. Para ele, o fato de haver mais leitos disponíveis na cidade, embora seja uma boa notícia, não pode nos colocar nesta situação de normalidade. A demanda de leitos de UTIS tem sido muito grande dia após dia. Cerca de 7 novos leitos são solicitados pela central de regulação do estado todos os dias.


“Essa suposta normalidade vai acabar assim que todos os leitos forem ocupados e pelo cenário que está desenhado, isso não vai demorar a acontecer”. Afirma o intensivista.

Desde que a pandemia do Novo Coronavírus chegou ao Brasil, as medidas de restrições foram impostas em todo o país a fim de evitar o temido colapso na saúde, que já oferecia um serviço precário à população. O coordenador das UTIs do Hospital Geral Clériston Andrade, disse que não se deve pensar apenas no colapso do sistema de saúde da cidade, por que o cenário é ruim ainda que não cheguemos a este extremo.


“Nós temos que pensar num cenário de ocupação plena de leitos de UTIs, mas também no esgotamento de recursos e insumos. O Brasil vem passando por um déficit generalizado de drogas para sedação de pacientes que estão nos leitos e fazendo uso de ventilador mecânico. Na hora que estas drogas faltam, a gente precisa fazer malabarismo. As pessoas ficam tranquilas, achando que estamos distante do colapso, mas na verdade, estamos distante do pior cenário, que já é terrível antes mesmo de colapsar”.


Essa semana, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou a informação que houve uma diminuição de 30% nos casos registrados na cidade e chegou a afirmar que já passamos pelo pico da epidemia, atingindo uma estabilidade.
Lúcio Couto questiona estes dados baseado no volume de testagem que vem sendo realizada na cidade e diz que o volume de pacientes críticos não foi reduzido.


“De acordo com a vivência de quem está na linha de frente, eu posso afirmar que não há uma maioria de doentes que chegam a um estágio crítico da doença, mas, seguramente, afirmo que não houve redução alguma no volume da demanda por leitos. Desde que esta UTI foi aberta, no dia com menor demanda, admitimos 6 pacientes. Por tanto, ainda não é hora de comemorar a abertura do comércio e ir para a rua como se nada tivesse acontecendo”. Alerta o médico.


Ainda segundo o médico intensivista, os pacientes com Covid-19 ficam internados na UTI entre 14 e 21 dias. Número que supera e muito a média de dias das outras doenças, que normalmente, é de 7 dias.


O Hospital Geral Cleriston Andrade 2, que completou uma semana de funcionamento nesta quarta-feira (22), já tem quase 60% de ocupação nos leitos de UTIs. A unidade de saúde entregue pelo Governo do Estado, está funcionando com 40 leitos de UTI específicos para Covid-19. Antes da inauguração, outros 10 leitos de UTI exclusivos para coronavírus já estavam funcionando.


Além de Feira de Santana, a central de regulação envia pacientes de mais 121 municípios do estado para o HGCA. A maior parte dos pacientes com Covid-19 internados hoje são feirenses, com uma prevalência de mulheres, com idades entre 62 e 73 anos de idade e portadores de comorbidades. Este também é o perfil da maioria dos óbitos registrados no hospital, embora, Lucio Couto alerte para o fato de que houve registos de pacientes mais jovens e sem doenças pré-existentes que não resistiram a virulência da Covid-19.

Dandara Barreto | Blog do Velame